MIRARI VOS: A IGREJA FRENTE À MODERNIDADE


 

   Após os eventos trágicos da Revolução francesa, não demorou muito para que seus ideais liberais se espalhassem por toda a Europa e consequentemente por todo o ocidente. A Santa Igreja sendo a maior inimiga dos revolucionários, foi o principal alvo de seus ataques. Apesar da crise do modernismo ter se consolidado internamente na Igreja na segunda metade do século XX, ela se inicia já no início do século XIX com as ideias revolucionárias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade adentrando às portas da Igreja para subverter não somente o clero, mas também os fiéis.


   Ciente desses problemas que começavam a se manifestar, Sua Santidade, o papa Gregório XVI no dia 15/08/1832 (festa da Assunção de Nossa Senhora) publicou a encíclica "Mirari vos", para orientar os membros da Igreja acerca dessas novidades nocivas.


O que fora tratado na Mirari vos

   O Santo Padre, já no início do documento demonstra um profundo desgosto pela situação de constante avanço da modernidade com seus princípios anticristãos como o cientificismo. O desdém com que eram tratadas as coisas sagradas também fora motivo de lamentação para S.S. Gregório XVI, que lembrava a todos de que tudo isso era fruto de uma conjuração promovida por seitas heréticas cujas não são citadas de modo específico.


   É exortado a todos os membros do corpo docente da Igreja a estarem sempre vigiando para que suas ovelhas se mantenham sempre na sã e reta doutrina. A importância da hierarquia é constantemente mencionada nessa encíclica, isto é, de que todos os bispos estão sob a jurisdição do papa, ao contrário de certas tendências reformistas e igualitárias da época, que devido ao advento do liberalismo na sociedade, desejavam uma subversão da concepção hierárquica da Igreja.


   S.S. Gregório XVI alerta que toda essa ânsia por novidades é fruto da soberba daqueles homens orgulhosos de seu tempo, que além de desejarem "reformas" na hierarquia, também propunham mudanças disciplinares como o fim do celibato clerical e até a extinção da concepção de indissolubilidade do matrimônio.


   O ponto alto da "Mirari vos" é a condenação do indiferentismo religioso, que é descrito pelo Santo Padre como uma doutrina perversa que leva as almas à perdição, e que a consequência disso seria o delírio da "Liberdade de consciência" que pode ser definida como "direito de aderir ao erro", algo completamente absurdo, e a Igreja sendo mãe e mestra da verdade, jamais permitiria a difusão de tal erro. Essas ideias nefastas acarretariam na "Liberdade de expressão e de imprensa", aqui o problema não seria somente o direito de aderir ao erro, mas também de propagá-lo. O Santo Padre faz questão de mencionar a encíclica "Christianae reipublicae" de seu predecessor Clemente XIII, nessa encíclica ele condena ferozmente os livros heréticos/contrários a fé, o que é bastante razoável, sendo os livros fonte de informação, podem muito bem ser instrumentalizados pelos inimigos da Igreja para propagar o erro e a desinformação. Nessa menção de Gregório XVI também estão inclusos os padres Tridentinos que alertavam constantemente sobre o perigo da circulação de livros contrários a fé, exaltando assim, a importância tanto da existência quanto da manutenção do "Index Librorum Prohibitorum" (Índice dos livros proibidos).


   Por fim, S.S.Gregório XVI encerra essa bela encíclica salientando o quanto é necessário para o bem comum da sociedade a união entre Igreja e Estado,que têm funções distintas, porém complementares. É uma condenação explícita ao Estado laico, que obviamente era uma ideia muito crescente naquela época de mundo pós Revolução.


   


   


   

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