CONCÍLIO DE LATRÃO V (1512-1517)

   O Concílio de Latrão V foi um encontro longo e com pouquíssimos frutos, e se encerrou apenas alguns meses antes que a Igreja recebesse o famoso pedido para enfrentar os seus verdadeiros problemas: as 95 teses de Martinho Lutero.

   No início do século XVI, a Igreja enfrentava grandes problemas. Mas o papa Júlio II, conhecido como o papa guerreiro por haver literalmente liderado exércitos em batalhas, só reuniu o Concílio de Latrão V (1512-1517) porque se viu obrigado a fazer isso. Seus inimigos já haviam convocado o seu próprio concílio em Pisa, uma localidade que evocava más recordações para a Igreja devido ao Grande Cisma. Alguns cardeais descontentes haviam recebido o apoio do rei francês e do sacro imperador romano para se reunirem em Pisa em um encontro que durou do final de 1511 ao início de 1512. Embora tenha sido bastante modesto, esse encontro provocou grandes dificuldades para Júlio II. Do mesmo modo que havia ocorrido em Basileia, os seus membros suspenderam o papa e reafirmaram a declaração da supremacia conciliar enunciada pelo Concílio de Constança. Mais uma vez

Latrão V

   Do mesmo modo que os lataranenses anteriores, este concílio foi dominado pelo papa: as suas sessões se reuniram na residência do papa e os seus documentos foram publicados como bulas papais. A primeira questão que foi abordada era bastante óbvia: o papa condenou o encontro de Pisa, chamando-o de "quase concílio" e de "falsificação" e os seus participantes de "cismáticos e heréticos".

   A única definição dogmática deste concílio é a que a 8° sessão de 19 de dezembro de 1512 dirigiu contra o filósofo Pedro Pomponazzi (sem citar o nome), declarando que a alma humana individual é imortal.

   A questão principal no concílio era e continuou a ser, saber se pode concentrar suficiente coragem e vontade para realizar uma reforma eclesiástica séria. "Os homens é que devem ser transformados pelas coisas sagradas e não as coisas sagradas pelos homens", disse Egídio de Viterbo, superior geral dos agostinianos em seu sermão de abertura. Dois venezianos, os camaldulenses, Giustiniani e Quirini, entregaram a Leão X no ano de 1513, logo depois de sua eleição, um memorial sobre a reforma eclesiástica, notável pela sua crítica sem reservas aos abusos, mas que não ficou apenas aí, antes estava cheio de propostas positivas: revisão do código eclesiástico, unificação da organização das ordens religiosas e da liturgia, reinício das negociações de união com as igrejas orientais e até obra missionária no Novo Mundo recém-descoberto.

   O Concílio de Latrão V tem sido criticado por não haver conseguido instituir reformas efetivas, mas seus membros legislaram contra a simonia, o concubinato e a usura, além de haver legislado contra o controle que os leigos exerciam sobre o dinheiro, as propriedades e os direitos da Igreja. Também determinaram que os cardeais deveriam viver em lares modestos e frugais. Os membros do concílio alertaram contra os falsos pregadores, os milagres fraudulentos, a bruxaria e a blasfêmia. Também exigiram a supervisão de todo tipo de material impresso, como livros e panfletos, que estavam proliferando em reproduções e acessíveis em virtude do aperfeiçoamento do processo de impressão que Gutenberg havia aperfeiçoado cerca de cinquenta anos atrás. O Concílio de Latrão V se preocupava com os erros perpetrados contra a fé cristã que poderiam ser espalhados desse modo, uma preocupação para os católicos se confirmou alguns anos depois, quando os protestantes fizeram uso eficiente dessa nova tecnologia para disseminar suas heresias e mentiras por meio da imprensa popular.

   Até tão longe o Concílio de Latrão V não estendeu seus objetivos. Promulgou alguns decretos de reforma muito úteis sobre: o sistema de taxas curiais; seleção dos bispos; ensino religioso; casas de penhores de utilidade pública; assim como sobre a censura de livros. Todavia, sob um ponto de vista global, cumpre verificar que o concílio não conseguiu reprimir os piores abusos como: acumulação de benefícios numa só pessoa e o descuido do dever de residência.  Os concílios medievais de Latrão, num mundo transformado, não podiam ser revivificados. O Concílio de Latrão V foi encerrado em 16 de março de 1517; a 31 de outubro do mesmo ano Martinho Lutero pregava suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg.

   

Referências bibliográficas: 

JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.


BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.


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