CONCÍLIO DE VIENNE (1311-1312)

 


   Esse concílio se reuniu quase na mesma época do início da longa permanência do papado em Avignon, onde, em maior ou menor grau, a coroa francesa passara a exercer uma influência sobre os papas. Vienne representa o ponto mais alto, ou o ponto mais baixo, alcançado por essa influência, pois o rei francês Filipe IV (o Belo) intimidou o papa Clemente V para que este cedesse às suas pressões, principalmente por meio da ameaça constante de julgar um papa anterior, Bonifácio VIII, por heresia.

O processo contra os Templários

   A abertura realizada com mais de um ano de atraso foi condicionada pelo processo contra a ordem de cavalaria dos Templários, que devia ser concluído no concílio. Os Templários, tendo a missão original de defender os peregrinos da Palestina e os lugares sagrados, após a perda da Terra Santa tiveram sua tarefa terminada. Sua grande riqueza foi a causa, e os abusos morais indubitavelmente existentes foram o pretexto para que o rei Filipe, o Belo, da França, mandasse prender em seu país, a 13 de outubro de 1307, todos os membros da Ordem, confiscando lhes todos os seus bens. Foi isto uma violação flagrante do direito canônico, ao qual a Ordem estava subordinada. Mesmo depois de Clemente V ter tomado em suas mãos o processo e nomeado uma comissão papal de investigação, o processo continuou sob forte pressão do rei, a qual ainda mais se agravou por sua exigência de condenar posteriormente (com vigor retroativo) seu inimigo mortal, Bonifácio VIII. Durante todo o processo, Filipe usou esta exigência como um meio de pressão política. O resultado das longas negociações que ocuparam todo o inverno de 1311-12, não foi uma sentença do concílio, mas a supressão da Ordem, por um ato administrativo do papa, que tomou esta decisão dois dias depois da chegada de Filipe a Vienne, a 22 de março de 1312. Os bens da Ordem, porém, não foram, como exigia o rei, entregues a uma nova ordem de cavalaria a ser fundada e, por esta, a ele próprio, mas adjudicados aos cavaleiros da Ordem de São João.

   Filipe conseguira derrotar os Templários no que dizia respeito ao Concílio de Vienne, mas sua vitória não havia sido completa. Depois de dissolvida a Ordem por Clemente V, alguns dos cavaleiros, incluindo o seu grão-mestre, foram queimados na fogueira. Clemente V era simplesmente fraco demais para poder evitar aquilo que a partir de então ficou conhecido na história como o aprisionamento dos membros da ordem sob falsas acusações. No entanto, embora o papa tivesse excomungado a Ordem dos Templários, ele não considerou os seus membros culpados ou inocentes da acusação de heresia.

Vienne

   Embora o episódio dos Templários não tivesse sido a única questão a ser abordada em Vienne, certamente foi a mais notória. O concílio também abordou a questão das heresias que seriam supostamente praticadas por outros grupos e estabeleceu procedimentos para a inquisição e a punição desses hereges. Essas medidas indicam que a heresia continuava a representar um problema para a Igreja, apesar de todas as normas instituídas pelos concílios de Latrão para a investigação dos dissidentes.
   Especificamente, o Concílio de Vienne colocou dois grupos, as beguinas e os begardos, fora da lei, especialmente na Alemanha. Esses grupos consistiam em uma multidão flutuante de fiéis, muitos dos quais eram mulheres, que não se enquadravam em nenhum grupo estabelecido de fiéis cristãos. Aparentemente, dedicavam-se com mais intensidade às práticas religiosas do que os outros leigos, sem no entanto terem feito votos ou serem membros declarados de alguma ordem religiosa preexistente de monges, frades ou de monjas, e nem desejavam fundar uma ordem. Alguns begardos e beguinas eram refratários a alguns sacramentos e a algumas estruturas hierárquicas da Igreja, mas os cânones instituídos pelo concílio descreviam esses movimentos como muito mais organizados e sistemáticos do que realmente eram, o que talvez tenha facilitado a sua condenação em massa.
   Do mesmo modo que havia sido feito pelo Concílio de Latrão IV, Vienne designava especificamente aos bispos a tarefa de descobrir e combater os heréticos em suas respectivas dioceses. O concílio fazia um alerta contra os excessos inquisitoriais, mas determinava aos bispos que investigassem os acusados com vigor, diligência e imparcialidade.
   Os procedimentos instituídos por Vienne incluíam um cânone que determinava a melhoria do ensino de idiomas com o objetivo de evangelizar os não cristãos. O papa ordenava que se nomeassem eruditos para onde quer que a errante Cúria Romana se mudasse e para cada um dos grandes centros universitários, que incluíam Paris, Oxford, Bologna e Salamanca. Especificamente, ele expressava o seu desejo de que os idiomas hebraico, árabe caldeu fossem ensinados, e de que as pessoas se tornassem fluentes nesses idiomas.

Referências bibliográficas: 

JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.


BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.

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