CONCÍLIO DE NICEIA II (787)

 


   A tempestade árabe não apenas arrancou largas províncias ao Império Bizantino, mas também avançou, já no fim do século VII, até às portas da sua capital. Só a habilidade militar de Leão III, do Isáurios, impediu em 717-718 que Constantinopla fosse conquistada pelos árabes. Mas este mesmo imperador, deixando-se levar por círculos eclesiásticos hostis à veneração das imagens (iconoi) e talvez também por modelos judaicos e islâmicos, proibiu, no ano de 730, por um decreto imperial, esta espécie de piedade. Fundamentou-se essa proibição, em parte, no Antigo Testamento ("Não farás para ti imagem de escultura"), e em parte também, com referência às imagens de Cristo, na impossibilidade de exprimir a natureza divina de Cristo por uma imagem. Representar só a natureza humana seria nestorianismo. Muitas obras magníficos de arte foram absurdamente destruídas e defensores das imagens, como o patriarca Germano de Constantinopla, depostos e violentamente perseguidos. Em vão protestou contra o iconoclasmo, o Papa Gregório III em um sínodo romano (731). Um sínodo em Hieréia junto ao Bósforo o fundamentou e sancionou teologicamente (754). "Eles elevaram a dogmas as suas opiniões; assim caracteriza o cronista bizantino Teófano as resoluções do sínodo; sem que alguém das sedes episcopais católicas, nomeadamente de Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, tivesse estado presente". O imperador Constantino V (741-775) estava muito mais violentamente furioso contra os partidários da veneração de imagens do que seus predecessores; só no mês de agosto de 766, 16 altos funcionários e oficiais foram executados por essa razão.

Niceia II

   O sétimo concílio geral, o de Niceia II, se reuniu em 787 para discutir uma questão litúrgica bastante controversa: a de se os fiéis deveriam ou não venerar os ícones  que representavam Jesus, Maria e os santos. Embora não se tenha certeza de como o iconoclasmo havia surgido, parece que os primeiros dentre aqueles que se opuseram aos ícones foram os monofisitas que ainda restavam, pois enfatizam exageradamente a divindade de Jesus em detrimento de sua humanidade. Eles acreditavam que uma imagem jamais poderia ser uma representação adequada ou precisa da divindade de Jesus. Além disso, argumentavam que, como ícone só poderia representar o ser humano Jesus, ele era necessariamente herético.

   A imperatriz bizantina Irene, que era regente de seu filho ainda criança. Constantino VI, convocou o Concílio de Niceia II para que o uso dos ícones fosse aprovado. O papa Adriano I concordou que a reunião de um concílio geral era necessária para se tentar acabar com a violência que essa questão vinha gerando por várias décadas e enviou legados ao Concílio de Niceia II. Sob a liderança de Irene, que se dirigiu diretamente aos padres, esse concílio geral reafirmou o uso dos ícones e, por extensão, o ensinamento tradicional da Igreja de que os santos que já haviam falecido, podiam interceder em favor dos cristãos que ainda estavam vivos.

   O Concílio de Niceia II declarou que a "produção de obras de arte representativas" estava em "total harmonia com a história da difusão do evangelho". Depois de aprovar as imagens, os padres que reuniram nesse concílio explicaram os motivos pelos quais as imagens eram úteis para o culto e descreveram o modo como os fiéis deveriam usá-las apropriadamente. 

   Este concílio também publicou quatro anátemas contra os iconoclastas e ordenou que as relíquias dos mártires fossem exibidas nas igrejas que os iconoclastas, devido às suas crenças, haviam consagrado sem a sua presença. Para deixar bem claro para os fiéis que as ideias iconoclastas eram heréticas e para evitar a difusão dessas ideias, o concílio determinou que todos os livros eram contrários aos ícones e à sua veneração deveriam ser reunidos e trancados em Constantinopla. 


Referências bibliográficas:

JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.


BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.


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