CONCÍLIO DE NICEIA I (325)
O que é um Concílio Ecumênico?
Os concílios gerais (ecumênicos) são encontros convocados normalmente pelo Papa em que se reúnem os bispos da Igreja. Os concílios não são convocados de modo regular e em uma data preestabelecida, mas sim na medida em que se fazem necessários para que a Igreja, representada pelos membros do concílio possa abordar os principais temas que se apresentam em determinado momento. Normalmente são questões relacionadas a fé, porém podem ser também: disciplinares e políticas.
Os primeiros concílios da Igreja na antiguidade.
Os oito concílios ecumênicos que, convocados pelos imperadores romanos, mais tarde pelos imperadores romanos orientais, se realizaram em regiões do Império Oriental; em Niceia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia; distinguem-se de todos os outros seguintes, convocados pelos papas e celebrados no ocidente, de tal forma que é justificado tratá-los como unidade histórica, embora cronologicamente cheguem a alcançar os primórdios da Idade Média e embora os quatro primeiros; os "concílios antigos" no sentido estrito; superem aos demais em importância.
Questões doutrinárias de Niceia I.
A Igreja esperou quase 300 anos para convocar um novo concílio após o de Jerusalém no ano 50 d.C.. Sendo o Concílio de Niceia I o primeiro concílio geral da historia da Igreja, só pôde ser convocado após o Edito de Milão em 313, documento este, promulgado pelo Imperador Constantino, que cessou a perseguição aos cristãos no Império Romano.
Por estarmos nos referindo aqui aos primórdios do cristianismo e da Igreja, é normal que houvesse na época muitas dúvidas em relação à Fé, principalmente no que tange a natureza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando dizemos que os oito primeiros concílios da Igreja são os mais importantes é porque nestes concílios foram resolvidas questões cristológicas.
A Grande heresia da época, que foi o estopim para a convocação do primeiro concílio ecumênico da Igreja, foi a heresia ariana, proposta pelo sacerdote heresiarca Ário, esta heresia consiste em basicamente em enfatizar demasiadamente a humanidade de Nosso Senhor em detrimento de sua divindade, ou seja, a negação da natureza divina de Jesus Cristo e da Santíssima Trindade. Ao longo dos próximos 350 anos, utilizando-se da teologia de Ário como ponto de partida, outros aplicaram os seus princípios às questões relativas à cristologia e à teologia trinitária. Em reação a essas heresias, os teólogos que se opunham a Ário e aos seus seguidores defendiam vigorosamente a divindade de Jesus, mas acabavam às vezes pecando pelo excesso, cometendo o mesmo tipo de erro no outro extremo, pois, ao enfatizarem excessivamente a divindade de Jesus, muitas vezes o faziam em detrimento de sua humanidade. A sequência de argumentos e contra-argumentos relativos a essa questão proporcionou o ímpeto necessário que levou à convocação de uma série de concílios na antiguidade, como veremos nas publicações seguintes desta série.
Niceia I
Primeiro gostaria de reiterar que Constantino convocou este concílio não com a intenção primordial de resolver essas questões dogmáticas, mas sim, para manter a estabilidade e a ordem no Império Romano. Constantino sabia que essas divisões entre os cristãos seria muito prejudicial para o Império, e que, promovendo a unidade e paz entre todos contribuiria para transformar o Império Romano em uma comunidade muito mais sólida.
Constantino exerceu forte liderança nesse primeiro concílio geral, pois, além de o haver convocado, presidiu o seu início, realizou-o em seu próprio palácio, dirigiu-se diretamente aos seus membros e, ao final do encontro, confirmou e promulgou os seus decretos.
O primeiro concílio ecumênico foi consequência de acontecimentos anteriores a ele. Essa relação de "causa e efeito" estabelece um padrão que foi seguido, com frequência, pelos concílios subsequentes. Por algum tempo, Ário havia sustentado que Jesus não era eterno nem incriado como Deus Pai. A teologia ariana ainda acarretava uma outra conclusão perturbadora: se apenas Deus pode salvar os seres humanos, logo Jesus não havia salvado nenhum ser humano.
Cerca de uma dúzia de bispos arianos compareceu ao Concílio de Niceia I, mas a grande maioria dos outros bispos rejeitou as heresias de Ário, Liderado pelo diácono do bispo Alexandre, (Santo) Atanásio (que mais tarde o sucederia como bispo de Alexandria), o encontro resultou em uma declaração que, entre Jesus e seu Pai. Por fim, o concílio acabou empregando a palavra homo-ousios para definir o fato de que Jesus e seu Pai eram "um no ser", ou "do mesmo ser" ou "da mesma substância".
O credo de Niceia I esclareceu algumas questões, mas, involuntariamente, levantou outras, relativas à cristologia e à teologia trinitária. Como definir o Espírito Santo e qual era a sua relação com o Pai e com o Filho? Se Jesus é totalmente divino e a sua divindade é superior à sua humanidade, seria correto afirmar que a humanidade de Jesus foi completamente absorvida pela sua divindade? Essas questões foram exacerbadas pela persistência do arianismo, que, apesar das condenações nicenas. foi de tal magnitude que São Jerônimo, o tradutor das Sagradas Escrituras para o latim, ainda se queixava quarenta anos após este concílio: "o mundo inteiro gemeu ao se descobrir ariano".
Consequências de Niceia I
Uma reviravolta particularmente inusitada ocorreu após o Concílio de Niceia I. Devido a um complexo conjunto de rivalidades políticas e religiosas, alguns grupos aclamaram o heresiarca e condenado Ário como um herói, enquanto Santo Atanásio era exilado por várias vezes de sua sede episcopal em Alexandria. Em um dado momento, o próprio Constantino, que havia supervisionado a derrota de Ário no Concílio de Niceia I, em grande parte devido ao empenho de Santo Atanásio, acabou por exilar o mesmo definitivamente em Trier, na atual Alemanha.
Uma das principais dificuldades enfrentadas neste concílio era o idioma, os bispos orientais utilizavam e falavam o grego, enquanto os bispos ocidentais utilizavam e falavam o latim. Cada uma dessas línguas possuía as suas próprias nuanças, que não podiam ser traduzidas com exatidão para a outra. Nem todo bispo ou teólogo oriental de fala grega podia compreender e falar o latim fluentemente, e vice-versa.
Não obstante as consequências trazidas por este concílio, os arianos continuavam a afirmar que Jesus não era completamente divino. Alguns deles, conhecidos como semiarianos, adicionavam um "i" a palavra homo-ousios, fazendo com que ela se transformasse em outra expressão grega, homo-ousios, que significava que Jesus tinha essência semelhante à do Pai mas não a mesma essência. Para esses semiarianos, Jesus era "como" Deus, mas não era Deus. Outras heresias também floresceram depois do concílio. Um grupo negava a divindade do Espírito Santo, pois os seus membros haviam chegado a essa conclusão partindo do pressuposto de Ário de que Jesus não era divino. Para combater essas heresias, um teólogo chamado Apolinário enfatizou a divindade de Jesus de um modo tão exagerado que ele acabou por afirmar que Jesus era completamente divino mas não completamente humano. Mesmo os defensores do Concílio de Niceia I acabavam se afastando da ortodoxia.
O Concílio de Niceia I não chegou a esclarecer por completo como Deus poderia ter uma única natureza e ao mesmo tempo se dividir em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Portanto vieram uma série de concílios subsequentes para resolver essas questões e novas que surgiram com o tempo. As quais, veremos nas publicações seguintes.
Curiosidades de Niceia I
Quando nos referimos a este concílio é impossível não nos recordarmos do atípico episódio em que, o bispo de Mira, São Nicolau, não suportando ouvir as heresias e tolices ditas por Ário, com o coração cheio de caridade, partiu para a agressão física ao esbofetear o herege em seu rosto.
Referências bibliográficas:
JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.
BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.
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