CONCÍLIO DE LATRÃO III (1179)

 


   A luta de políticas eclesiásticas, a das investiduras, deu origem ao primeiro concílio de Latrão; um cisma, ao segundo. O terceiro reúne dois motivos. À eleição de Rolando Bandinelli de Sena para Papa (Alexandre III, 1159-1181), opôs o imperador Frederico I, apelidado o "Barbaroxa", sob a pressão da representação brusca dos cardeais reunidos na Dieta de Besançon em 1157, um contra candidato na pessoa do cardeal Otaviano de Montecelio ( Vitor IV). A tentativa levada a efeito por Barbaroxa, para restituir a soberania do império na Itália, levou as cidades da Itália do Norte para o lado de Alexandre III, que se recusou a comparecer ao concílio reunido em Pádua em 1160. Só depois de uma luta encarniçada, que durou cerca de 15 anos, Barbaroxa abandonou, na Paz de Veneza (1177), seu antipapa que fora Calixto III, o segundo sucessor de Vitor, obrigando-se a restituir os benefícios por ele ocupados. O terceiro Concílio de Latrão, previsto já nas atas da Paz, foi o selo eclesiástico posto sob a conclusão da paz, que fortaleceu o poder do Papado. Ao Concílio, segundo as palavras da convocação enviada aos bispos de Toscana, caberia, "conforme os costumes dos Santos Padres", confirmar a paz e emprestar-lhe a força que, sem isso, ela não teria. Portanto, Alexandre liga o concílio aos da antiga Igreja. Seu desejo era reunir "todo o mundo católico, pelo menos todo o mundo eclesiástico".

Latrão III
    Do mesmo modo que seu antecessor, o Concílio de Latrão III reafirmou a unidade papal depois de a Igreja ter sofrido alguns cismas. Três antipapas já haviam ameaçado o então papa Alexandre III, e na sequência desse concílio um quarto antipapa também o desafiaria. A eleição de Alexandre III, em 1159, foi uma repetição das violentas e turbulentas eleições de 1124 e de 1130 para o papado. Para consolidar a sua liderança e a sua autoridade, Alexandre declarou nulas e inválidas todas as ações que haviam sido empreendidas pelos seus rivais e todos os cargos que haviam sido ocupados por estes últimos e por todos aqueles que os apoiavam. Ainda mais importante do que essa declaração foi o cânone instituído por este Concílio sobre as eleições papais, que estabeleceu mais um importante passo para consolidação do processo medieval que reservava as eleições papais exclusivamente aos cardeais, mesmo que para isso fosse necessário trancá-los em uma sala.

   O Concílio de Latrão III continuou a combater os hereges, voltando a sua atenção para um grupo denominado cátaros ("os puros") ou albigenses. Os cátaros rejeitavam a maioria dos sacramentos da Igreja, substituindo-se por uma religião minimalista que se baseava na fé interior e em um ascetismo extremado. Este concílio proibiu que se rezasse uma missa fúnebre e que se providenciasse um enterro cristão a um cátaro, além de proibir todas as outras pessoas de dar comida e abrigo a um cátaro ou ter negócios com um deles. o Concílio estimulou os cristãos a combater esses hereges ao reduzir para apenas dois anos qualquer penitência que um defensor da fé tivesse de cumprir. De modo significativo, essa declaração concedia àqueles que combatiam os heréticos em seus próprios países o mesmo tipo de recompensa que os concílios anteriores e os papas haviam oferecido aos cruzados para que estes combatessem os "infiéis" na distante Terra Santa. 

   Em um outro tópico semelhante, o concílio instituiu leis contra qualquer cristão que ajudasse os muçulmanos e relacionava, minuciosamente, alguns tipos de ofensas aparentemente relacionadas ao ato de ajudar e de dar apoio aos inimigos dos cruzados. o Concílio de Latrão III proibia, por exemplo, os cristãos de trocarem armas e madeira por elmos com os muçulmanos e de comandar ou de pilotar navios maometanos. E o concílio não demonstrava nenhuma clemência para traidores como estes, pois eles eram excomungados, perdiam as suas propriedades e podiam ser escravizados. Em todas as demais situações, o concílio declarava que nenhum judeu ou muçulmano poderia ter um cristão como serviçal.

   Os três primeiros concílios de Latrão conseguiram reconhecimento universal pelo facto de terem colocado o selo da solução dos problemas mais ardentes da época: puseram termo à luta das investiduras, aos cismas de Anacleto II e de Barbaroxa. O número sempre crescente dos participantes, mas também a consciência dos seus convocadores eleva-os acima dos anteriores concílios papais. Mesmo assim, são apenas preliminares do concílio seguinte, que desde o início fora planejado como ecumênico, conscientemente ligado aos antigos concílios. 


Referências bibliográficas: 

JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.


BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.


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