CONCÍLIO DE ÉFESO (431)
Theotokos
O Heresiarca da vez era Nestório. Ironicamente, como bispo de Constantinopla, Nestório havia procurado eliminar todos os adeptos que ainda teimavam em seguir o arianismo ou o seu extremo oposto, o apolinarianismo. Mesmo depois do Concílio de Constantinopla I, não paravam de surgir novas questões cristológicas. E desta vez o que estava em questão era sobre a maternidade da Virgem Maria.
Nestório sustentava que Maria era mãe do ser humano Jesus, mas não era mãe de Deus. Alguns foram ainda mais longe ao propor que Jesus era duas pessoas separadas: o Jesus que tinha natureza divina era o Filho de Deus e o Jesus que tinha natureza humana era o filho de Maria. Um dos discípulos de Santo Atanásio, São Cirilo de Alexandria, se tornou o principal opositor do nestorianismo, e o papa Celestino permitiu que Cirilo falasse em seu nome no concílio. Cirilo alegava que o nestorianismo dividia Jesus ao meio ao negar que o Jesus humano e o Jesus divino eram uma só pessoa.
Cirilo contra Nestório
Fiel à orientação teológica de sua escola antioquena, Nestório, dotado de grande eloquência, investiu em suas pregações contra a denominação "Mãe de Cristo" como "Theotokos", ou seja, genitora de Deus; só poderia ser ela denominada "Christotokos", ou seja, genitora de Cristo, porque dera à luz o homem-Cristo em que Deus "morava como num templo". Os fiéis , porém, não quiseram abandonar o título honorífico de mãe de Deus, com o qual estavam tão intimamente familiarizados. Nesse momento foi despertada a atenção de Cirilo. Em uma das suas costumeiras cartas de Páscoa, na dirigida aos bispos do Egito em 429, e numa carta circular aos seus adeptos mais fiéis; a milhares de monges; Cirilo rejeitou a doutrina de Nestório e pediu ao Papa Celestino I que decidisse a questão. Celestino em um sínodo romano em 430, aderiu a posição de Cirilo. Este, então, exigiu de Nestório a retratação de suas teses e lhe enviou uma lista de 12 erros (anathematismos) que ele deveria abjurar. O primeiro ponto era o seguinte: "seja anatematizado quem não confessa que o Emanuel é verdadeiro Deus e a Santa Virgem é genitora de Deus, que, segundo a carne, deu à luz o Logos encarnado de Deus". O terceiro anatematismo condenava a expressão utilizada pelos antioquenos "conjunção (synapheia) da divindade e humanidade no Logos, mas empregava para as duas naturezas o termo equívoco "hypostasis" no sentido de "substância".
Éfeso
Depois de alguns sínodos locais debaterem a questão e condenarem Nestório, em uma repetição do que havia ocorrido com Ário antes do Concílio de Niceia I, o Imperador Teodósio II convocou o terceiro concílio geral, que seria o mais rumoroso e confuso concílio a se reunir até então. Embora tivesse sido Nestório quem havia pressionado o imperador a convocar um concílio geral, o papa também havia concordado que um concílio se fazia necessário. Cirilo presidiu o Concílio de Éfeso em 431 e supervisionou a condenação de Nestório.
Os bispos orientais condenaram Nestório, reconheceram Maria como Theotokos (mãe de Deus) e afirmaram que Jesus realmente tinha uma natureza humana e uma natureza divina que se uniam em uma só pessoa. Isto é, o Concílio de Éfeso é importante do ponto de vista teológico porque explicou a "união hipostática", pela qual as naturezas humana e divina de Jesus se fundiam em uma só pessoa.
Em Éfeso foi condenado Nestório, mas não foi condenada toda a escola antioquena, nem o patriarca João com os seus partidários, contanto que não se mantivessem ligados a Nestório. "Nestorianos" mantiveram-se nas escolas de Edesa e de Nisibis. Fundaram em 498, em Selêucia-Ktesifon, um patriarcado próprio, que nos séculos seguintes, estendeu sua obra missionária até a China e a índia.
Essas afirmações relacionadas à união hipostática acabaram levantando novas questões cristológicas a serem discutidas como: "se a humanidade e a divindade estão unidas em uma só pessoa, isso significa que a divindade pode sofrer e morrer?". Não demorou muito para isso se transformar em controvérsia entre os bispos e teólogos, logo, um novo concílio estaria por vir poucos anos depois de Éfeso.
Referências bibliográficas:
JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.
BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.
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