CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA (451)


     O Concílio de Calcedônia foi uma tentativa de resolver de uma vez por todas as confusões, as explicações e contra explicações que floresceram no período de 125 anos que se seguiu ao primeiro concílio de Niceia. Mesmo com as declarações feitas pelos três concílios anteriores em mãos, alguns teólogos ainda tinham dificuldade em chegar a uma conclusão definitiva sobre a linguagem que deveria ser empregada e as ideias que deveriam ser seguidas no tocante à cristologia. 

Calcedônia

   Eutiques, arquimandrita de um mosteiro em Constantinopla e zeloso antinestoriano, representou a concepção de que depois da união das duas naturezas, divina e humana em Cristo, esta foi absorvida por aquela, de maneira que nessa altura só se pode falar de uma natureza, ou seja, da divina. O monofisismo, como foi chamada em consequência disso, essa heresia restringiu a humanidade do Senhor, que é a condição da salvação. Eutiques foi condenado por um sínodo realizado em 448, em Constantinopla sob a presidência do Patriarca Flaviano. Compreende-se, porém, que tenha encontrado apoio junto ao patriarca Dióscuro de Alexandria, sucessor de Cirilo e a ele semelhante no zelo pela cristologia alexandrina, diferente, entretanto, por sua ambição desenfreada e por sua brutal falta de delicadeza. Por insistência de Dióscuro, o Imperador Teodósio II convocou um sínodo imperial, novamente para Éfeso, onde, sob a forte pressão da tropa imperial e dos monges ali concentrados, Eutiques foi reabilitado. O papa Leão I, a cujos legados foi negada a presidência e cuja carta esclarecedora dirigida ao patriarca Flaviano não pôde ser lida, qualificou esse concílio de "latrocínio". Elevaram-se, de toda a parte protestos contra a sua decisão. Já a 13 de outubro de 449, em nome dos bispos ocidentais, pediu Leão I que o imperador convocasse um novo concílio para a Itália. Duas vezes renovou seu pedido, mas sem êxito. Foi só o sucessor de Teodósio II, Marciano, que acedeu ao desejo dele e, a 17 de maio de 451, convocou um novo concílio, embora não para a Itália, mas para Niceia. Todavia, logo depois da abertura, transferiu-o para Calcedônia no Bósforo, recomendada por ser próxima da Capital. o 4° Concílio Ecumênico, embora convocado novamente pelo imperador, foi obra de Leão I, a quem a história deu o nome de "Grande". Com base em fontes ricas (protocolos oficiais, listas de presença dos bispos, cartas), estamos muito mais bem informados do curso deste concílio do que os demais concílios da antiguidade.

   A principal declaração doutrinal do Concílio de Calcedônia foi a reafirmação de um mistério fundamental do cristianismo: Jesus é uma só pessoa com duas naturezas reunidas em uma união hipostática. Essas duas naturezas eram separadas e equivalentes: a natureza divina não sobrepujava a humana. Depois de reafirmarem o Credo niceno-constantinopolitano, os padres reunidos em Calcedônia revisaram, reiteraram e delinearam quase quatro séculos de teologia referentes a Jesus.

Consequências do Monofisismo

   Calcedônia coloca-se em posição intermediária, entre as falsas imagens de Cristo dos nestorianos e dos monofisitas. Ao mesmo tempo representa uma síntese entre o Oriente e o Ocidente, entre o Papa e o Imperador, mas foi também o "resultado de uma dura luta de forças concorrentes: política imperial dos imperadores, rivalidades de patriarcas, interesses nacionais particulares, entusiasmo monacal"(Grillmeier). Todavia, o pensamento monofisita lançou no Egito e nos países vizinhos raízes muito profundas, de maneira que a fé de Calcedônia não pôde facilmente extirpá-las. Além disso, associou-se ao separatismo das províncias afastadas do centro do Império. Em Alexandria deu-se um levante sangrento, um monofisita tornou-se patriarca e monofisitas ocuparam muitas sedes episcopais. Durante mais de um século os imperadores bizantinos esforçaram-se desesperadamente por dominar a resistência latente e aberta. Propuseram uma fórmula vaga de unificação, o Henotikon (482), tentaram até criar um cisma com Roma, o assim chamado cisma acaciano (484-519). O imperador Justiniano (527-565), o restaurador do império; cuja esposa Teodora se juntara em segredo aos monofisitas; na esperança de eliminar a resistência do Ocidente contra uma reaproximação aos monofisitas, levou à sede episcopal de Roma o aparentemente transigente Vigílio, que fora legado papal em Constantinopla. Mas também Vigílio, finalmente, declarou-se partidário da fé de Calcedônia.


Referências bibliográficas:

JEDIN, Hubert; Ecumenical councils in the catholic church, 1960.


BELLITTO, Christopher M.; The General Councils: A history of the twenty-one Chruch Councils, 2002.

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