A FALSA VIRTUDE DA PUSILANIMIDADE

 


   A pusilanimidade na vida espiritual é aquele desanimo profundo que sentimos quando as coisas não ocorrem da maneira que planejamos como quando fazemos um firme propósito de não cair mais em determinados pecados, mas por fraqueza acabamos cedendo, ou quando negligenciamos a vida de oração, até mesmo quando não conseguimos cumprir pequenos propósitos que fizemos para com Deus, como crescer naquela virtude e abandonar aquele vício.
   Aparentemente a pusilanimidade pode ser confundida com uma virtude, afinal, juntamente com o desanimo, sentimos indignação e até mesmo raiva contra nós mesmos, mas na verdade é que isto não passa de vaidade disfarçada.

Da confiança em Deus e da desconfiança em si mesmo

   Explica o Padre Scupoli que devemos nos entregar totalmente nas mãos de Deus, reconhecer a nossa profunda miséria e pequenez, ou seja, que estamos suscetíveis a qualquer momento de cairmos em pecados e imperfeições, e quando isto acontece, devemos humildemente recorrer a Deus com um ato de confiança em sua bondade e misericórdia. Não nos esqueçamos de que toda virtude que porventura venhamos a ter é um dom gratuito de Deus que nos é dado por sua infinita bondade, e que a qualquer momento nos pode ser tirado por nosso orgulho, vaidade, falta de fé e afins. Portanto, agradeçamos a estes dons e reconheçamos as nossas fraquezas com humildade como o próprio Deus nos orienta: "Maldito o homem que confia no homem, que da carne faz seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor (Jr 17,5)".

Quem ama a Deus é humilde e não se envaidece de suas qualidades
   
   O grande doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, nos alerta que quanto mais uma pessoa se acha indigna de receber graças, mais Deus a enriquece com as mesmas por sua humildade, e ainda diz o Santo: "se queremos salvar-nos e conservar-nos na graça de Deus até a morte, colocando toda nossa confiança somente nele. O soberbo confia nas próprias forças e por isso cai. O humilde, embora seja assaltado pelas mais fortes tentações, resiste e não cai, fizesse milagres, pode-se ter certeza que está ainda bem porque confia só em Deus: 'tudo posso naquele que me conforta (Fl 4,13)'".

Do erro das pessoas que têm a pusilanimidade por virtude

    É uma ilusão pensar que esta inquietude trata-se de uma dor legítima, na realidade é apenas amor-próprio ferido, porque não se suporta ver frustrada a confiança que se tinha nas próprias forças.
   As almas presunçosas, por julgarem-se seguras na virtude, geralmente menosprezam os perigos e tentações, e, caso venham a cair em algum pecado ou ter alguma experiência de sua fragilidade e miséria, perturbam-se com essa queda como se fosse uma grande surpresa; vendo-se privadas do vão apoio no qual haviam confiado, perdem o ânimo e, sendo fracas e pusilânimes, deixam-se dominar pela tristeza e desespero.
   Essa desgraça não sobrevém jamais às almas humildes, que nada presumem de si mesmas, mas se apoiam unicamente em Deus: quando caem em alguma falta, ainda que sintam grande dor por tê-la cometido, não se perturbam, porque, iluminadas pela luz da verdade, sabem que a queda é um efeito natural da sua inconstância e fraqueza.

   
Referências bibliográficas:

SCUPOLI, Pe.Lorenzo: O combate espiritual, 1589.

LIGÓRIO, Santo Afonso de: A prática do amor a Jesus Cristo, 1768.
   
   

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